Filosofia Ocidental: Pré-Socráticos

A filosofia enquanto tradição se divide em vários ramos, à exemplo da epistemologia, ética, ontologia, metafísica, dentre outras. Na filosofia ocidental, em particular, existe o fenômeno de diversas escolas e tradições filosóficas, essas derivadas dos esforços intelectuais de indivíduos; movimentos filosóficos, dentre os quais podemos destacar o existencialismo, racionalismo, platonismo e empirismo, são alguns que nos garantem uma vasta linha de conhecimento advinda dessa tradição de pensamento. Tratarei aqui primeiramente dos pré-socráticos, como o nome sugere foram filósofos que viveram antes de Sócrates, sendo que alguns deles coexistiram com o filósofo.

Nenhuma obra completa dos pré-socráticos resistiu ao tempo e ao ataques de certos grupos étnicos, como ocorreu na queima da Biblioteca de Alexandria, em um período que além da morte de diversos pensadores que guardavam o intento e chama do pensamento filosófico grego, como a filosofa Hipátia, terem sido mortos, uma vasta parte dos livros dos antigos pensadores se perderam em cinzas, inclusive alguns de Platão e Aristóteles, raríssimo material que jamais poderemos recuperar. A biblioteca continha obras de grandes nomes da filosofia Grega e de filósofos das proximidades do Império Grego, sendo estimado que mais de 100.000 livros foram perdidos nas chamas. 

Retratação da Biblioteca de Alexandria
Retratação da Biblioteca de Alexandria

Os filósofos pré-socráticos são caracterizados por pertencerem à escola Jônica de pensamento da época e por adotarem a Arché (no grego: ἀρχή) como sendo aquilo que da início, que origina e que está presente no movimento cíclico da natureza, sempre se renovando, uma espécie de “elemento onipotente”, entretanto, essa ideia foi abandonada pela filosofia de Sócrates e adiante. Uma visão equivocada das archés esta na interpretação literal desses elementos como ‘originadores da realidade’; é preciso se atentar para o fato de que essas entidades são um modo epistemológico, e quase metafísicos, permeados por simbolismo esotérico, afim de dar um norte na compreensão da realidade primária a qual os gregos desse período viviam. Dentre os filósofos desta época de maior importância estão:

  • Tales de Mileto (624-548 a.C.)

É tido como o primeiro filosofo do ocidente e fundador da escola Jônica, teve muita influência na matemática e astronomia além da filosofia, Tales baseou-se nas observações da natureza, ele tinha como Arché a Água.

Passagem da Metafísica de Aristóteles:

“Tales diz que o princípio de todas as coisas é a água, sendo talvez levado a formar essa opinião por ter observado que o alimento de todas as coisas é úmido e que o próprio calor é gerado e alimentado pela umidade. Ora, aquilo de que se originam todas as coisas é o princípio delas. Daí lhe veio essa opinião, e também a de que as sementes de todas as coisas são naturalmente úmidas e de ter origem na água a natureza das coisas úmidas.”

Tales foi muitas vezes criticado, mesmo em sua época, por se comportar de maneira “estranha” na visão de alguns, em relato de Plutarco, Tales tropeçou e caiu enquanto caminhava (em algumas fontes romantizam dizendo que caiu em um buraco), e foi repreendido por alguém sendo chamado de lunático, e por mais que tal categoria tenha um fundamento anedótico, Tales estava apenas analisando o tempo para saber se haveria uma seca. Está anedota demonstra como Tales se interessava pela observação, sendo assim o primeiro filósofo a pautar seu pensamento em um modo empírico, tendo sido propulsor de uma espécie de proto-empirismo. Ele foi mestre de Anaximandro e Anaxímenes.

Tales-de-Mileto
Prováveis feições de Tales de Mileto
  • Anaximandro (610-547 a.C.)

Foi seguidor da escola Jônica, tendo se destacado no pensamento geográfico e físico, ele dizia que a terra era cilíndrica, tendo sido para a época era uma grande inovação no pensamento material das coisas, tendo também ideias que se assemelham ao entendimento da física moderna. Sua Arché é o Ápeiron, um elemento cujo o qual todas as coisas se originam, seria uma substância infinita, que cria tudo na natureza. Acredita-se que escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza” mas a obra se perdeu, é possível que tenha sido no incêndio da Biblioteca de Alexandria.

  • Anaxímenes (588-524 a.C.)

Foi outro dos mais importantes discípulos de Tales de Mileto, tendo se dedicado à meteorologia e o primeiro a afirmar que a luz da lua provém do sol, foi também o primeiro a medir as divisões do dia e desenhar um relógio de sol.

Sua Arché era o Ar, ele embasava tal afirmação na observação da condensação das coisas na natureza, como a névoa que depois se tornaria água, ele supunha que essa condensação poderia vir a se tornar terra ou rocha, mas isso não foi observado. Ele também explicava alguns fenômenos naturais com embasamento logico, como os terremotos, dizendo que seria por falta de umidade, o que faz com que a terra resseque, se quebre e por consequência trema, o relâmpago ocorre quando as nuvens são separadas violentamente pelo vento o que causa uma iluminação como o fogo.

  • Demócrito (460-370 a.C.)

É um dos pré-socrático que coexistiu com Sócrates,  foi discípulo de Leucipo de Mileto e que junto com ele fundamentou a teoria atomista, também influenciou muito a filosofia de Epicuro, um dos maiores filósofos do Helenismo. Sua obra sobreviveu apenas por relatos e muitas vezes não confiáveis já que quem mais os fez foi Aristóteles, seu maior crítico, mas Demócrito de fato foi um escritor muito prolífico tendo atuado nos campos da ética, matemática, musica, dentre outras.

Sua Arché é o átomo, uma partícula microscópica, indivisível que origina todas as coisa, essa ideia de átomo foi usada até tempos modernos, mas a ideia de ser uma Arché ou indivisível já foi abandonada, mesmo assim, o pensamento de Demócrito é de se admirar que em sua época, ele já imaginava um objeto microscópico compondo matéria física.

Acredito que estes sejam os mais impressivos que me caiba comentar, estou deixando Heráclito e Parmênides para outra oportunidade onde os caracterizarei de um modo mais complexo e completo.

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